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terça-feira, 10 de novembro de 2015

A DANÇA DOS DRAGÕES - CRÔNICAS DE GELO E FOGO


Com o recente lançamento de A Dança dos Dragões, livro 5 das Crônicas de Gelo e Fogo de George R.R. Martin, é chegada a hora de enfiarmos uma estaca no coração de J. R. R. Tolkien e sua trilogia O Senhor dos Anéis. Como seus predecessores, A Dança tem sua quota de dragões, espadas e feiticeiras, porém isso não torna o Sr. Martin o Tolkien americano, como muitos têm falado. Ele é MUITO melhor que isso. A série, que iniciou com A Guerra dos Tronos, em 1996, é como um imenso e panorâmico romance do século XIX transformado numa fantasia multicor — algo mais relativo a Balzac e Dickens que a Tolkien. O Sr. Martin escreve fantasia para adultos de uma forma brusca, indecente  e pé no chão que deve caracterizar o filho de um carregador portuário de Nova Jersey. Seu personagem principal é um rapaz que sabe simplesmente tudo sobre cuidado e tratamento de dragões. Quem estiver assistindo seu trabalho na HBO, na série adaptada de A Guerra dos Tronos, com certeza sabe disso.

Essa série de televisão, que já está chegando na terceira temporada, fez aumentar a audiência de George Martin muito além do que o esperado para um livro de fantasia, fazendo com que o quinto livro da série fosse muito esperado — mais de 750.000 cópias já foram vendidas.


O inverno ainda está chegando em A Dança dos Dragões, assim como estava em A Guerra dos Tronos, e o destino dos continentes místicos de Westeros e seus Sete Reinos ainda estão em disputa, bem como as vidas de dúzias e dúzias de heróis, vilões e aqueles alheios a essa classificação, aguardando para aliarem-se a uns ou outros conforme os ventos da vitória tomarem um rumo.

Os elementos de fantasia existem, porém são habilmente silenciados, forma pela qual Martin desafia as convenções do gênero. Frequentemente o autor foca-se mais nos atritos entre religiões conflitantes, na Kremlinologia de Westeros, nos “enredos, tramas, sussurros, mentiras e segredos dentro de segredos” que compõem A Guerra dos Tronos. A todo momento esse cenário medieval ecoa nosso próprio tempo, esse em que mentirosos, espiões e devotos estão por toda a parte.

Para os fans, no entanto, o mais importante é que A Dança dos Dragões tem a presença dos personagens mais populares de Martin, incluindo Daenarys Targaryen, rainha da cidade de Meereen e “mãe” de três dragões; Jon Snow, 998º lorde comandante da Patrulha da Noite; Arya Stark, a filha de 11 anos do falecido Lorde de Winterfell, Eddard Stark; e a desonrada rainha Cersei, da Casa de Lannister.

O livro apoia-se na companhia de Tyrion Lannister, um brilhante, mas azedo anão cujo humor, arrogância e absoluta humanidade fazem dele a estrela da série. Quando Tyrion aparece, as Crônicas de Gelo e Fogo começam, para a delícia dos espectadores amantes das narrativas épicas.

George Martin é uma espécie de dançarino literário, encantado por personagens complicados e uma linguagem vívida que acaba por explodir na visão selvagem que só os melhores contadores de histórias possuem.  Sua maior criação é Tyrion. Como fugitivo que matou sua própria família, ele assume diversos papéis no quinto volume da série: impostor, soldado, tesoureiro, escravo, rato de rio e prisioneiro. Ele é parte de uma piada literária de Martin ao criar um “anão aristocrata” ou “bem nascido”, conhecido em Westeros como possuidor de uma sabedoria prática, proferindo máximas como: “Não confie em ninguém. E mantenha seu dragão por perto.” e “Um homem pequeno com um grande escudo deixará arqueiros malucos.”. Tais observações mantêm os leitores de Martin extasiados e separam as Crônicas de Gelo e Fogo dos romances de outros gêneros.

Os leitores ávidos para que Martin amarre pelo menos algumas pontas de sua trama cheia de tentáculos, porém, sairão desapontados da leitura do quinto livro, embora o destino de alguns personagens fique mais claro. Os dragões de Daenerys estão crescendo na mesma velocidade que seu vínculo com eles. Cersei percebe que a verdadeira humildade e contrição não vem de forma fácil. Tyrion, por sua vez, forja um improvável participante do futuro de Westeros. Ainda assim, A Dança dos Dragões possui uma generosa carga de aventura, o que pode ser uma união de forças de Martin como forma de antecipar o final da série com os dois livros faltantes.

O maior problema do livro é o descomunal número de 842 páginas da edição brasileira (menor que as 1016 do original americano), que vem para somar 1,742,848 palavras na contagem dos 5 volumes dessa série gigantesca. Numa história desse tamanho o leitor precisa embarcar em uma busca angustiante quando se perder no enredo, desafio para o qual um bom sumário ajudaria bastante.


Por tudo isso, A Dança dos Dragões atende aos altos padrões estabelecidos por seus quatro antecessores. Como todos os livros de séries famosas, ele não dá ao leitor alívio emocional, terminando com vários pontos de interrogação, conforme as pesadas rodas do destino entram em movimento. A medida que o livro vai chegando a seu final, o leitor é bombardeado com suspense após suspense, enquanto lembra que o próximo livro de Martin não será lançado na semana que vem, mas talvez daqui alguns anos.

Porém, enquanto escrevo, sei que ficarei feliz por aferrar-me às duras e escamosas costas desse dragão, aguardando o lançamento do livro 6, Os Ventos do Inverno.

Portanto, sim, o inverno ainda está chegando, Tolkien está morto e vida longa a George Martin!
      
Fonte: Lendo.org

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